Para
melhor se infiltrar me meio aos povos indígenas, os europeus se aproveitaram de
um sistema muito comum entre os índios, que é o sistema de “cunhadagem”, onde
qualquer pessoa de fora da tribo que se casasse com uma filha da tribo passava
a gozar dos direitos, regalias e vantagens de um nativo, exercendo grande poder
de influencia e desta forma usando esse poder para que a tribo lhe fizesse as
coisas de acordo com que lhe convinha, ou seja, manipulando a todos se fazendo
como se fosse parte deles e como se os anseios do europeu fosse para a tribo o
desejo de todos. Nesse sistema todos eram transáveis, o que possibilitou
práticas de incesto, pois não se sabia grau de parentesco de ninguém, uma vez
que todos se relacionavam sexualmente entre si. Apenas não se podia um cunhado
transar com os sogros, e nem com os nascidos após a união, fora isso poderia
transar com qualquer outra que estivesse dentro de sua faixa. Alguns europeus
se destacaram por possuírem um enorme número de descendentes e tribos
subjulgadas através da prática do “cunhadismo”. Muitos filhos dessa mestiçagem
se destacaram ao longo da história do Brasil, como por exemplo Jerônimo de
Albuquerque que fora o grande capitão de guerra na luta pela conquista do
Maranhão ocupado pelos franceses. Os franceses também fundaram criatórios com
base no “cunhadismo” e tiveram um grande número descendentes. Houve um período
em que não se sabia se o Brasil seria
português ou francês. Os espanhóis também fizeram parte do sistema de
cunhadismo e suas participações se dão em lutas contra os portugueses na
Paraíba e no Maranhão sempre ao lado dos franceses.
Para
dar fim ao sistema de cunhadismo e fortalecer a sua presença, a coroa portuguesa
criou o sistema de donatários, dando vastas faixas de terra para alguns de seus
nobres que deveriam se estabelecer nelas, torna-las produtivas e rentáveis para
a coroa. Essa era também uma forma de consolidar a dominação pelas terras de
além mar na luta contra os franceses que almejavam a criar a “França Antartica”
na região da Guanabara. Na vinda desses nobres, acampanhara-lhes nessa jornada
poucas mulheres portugueses, e dessas poucas nenhuma solteira. Para sanar a
necessidade de casamento e procriação, os Jesuítas casavam com os portugueses
as mamelucas que já vinha de uma miscigenação do indígena com o português e por
serem educadas pelos jesuítas já recebiam uma instrução dentro da fé cristã,
assim como modos e maneiras de comportamento de uma esposa europeia. Porém,
mesmo essas não eram um número suficiente para suprir o contigente de homens
afoitos e em idade de se casar, para esta questão os jesuítas solicitaram então
o envio de mulheres de toda a sorte que Portugal pudesse enviar, vindo então
meretrizes e órfãs para casar com os portugueses que aqui estavam como uma
forma de conter o grande índice de fornicação com as nativas. Mesmo isso não
fora o suficiente para conter a lacividade do português, o que fez com que a
maior parte dos brasileiros fossem nascidos essa mistura com o índio.
Com
as donatárias foram fundadas as primeiras vilas, que juntamente com os jesuítas
passaram a reger uma nova forma de
convivência com os índios, em que a convivência cordeal e igualitária do
cunhadismo ia dando lugar a disciplina rígida, havendo inclusivo punição com a
morte por parte dos religiosos para aqueles transavam com as índias se
estendendo a elas inclusive. Nesse mesmo período a relação entre o europeu e o
indígena Fo se estreitando, o escambo já não era mais algo interessante para os
índios a medida que viam demanda no trabalho crescer cada vez mais, ora pela
dificuldade de se encontrar o pau-brasil e ir buscá-lo cada vez mais longe e
ora pelo aumento das terras para a lavoura e a redução de gente pra trabalhar,
muitos pereciam nos campos. Para o europeu tinha as questões de El-rei e dos
religiosos que hora permitiam a caça e escravização de algumas tribos e ora
proibia através de decretos. O sistema chega ao seu limite onde além do
Genocidio de indiso causado pelas guerras e doenças trazidas pelos europeus,
vemos um novo genocídio, o do desgaste pelo trabalho árduo em que muitos não
resistiram a tanto esforço e alimentações escassas e pereceram, os europeus exauriam
a força de trabalho indígena ao máximo nas capitanias, principalmente nas do
sudeste. Simultameamente surgia no nordeste uma nova formação do povo
brasileiro, composto por mamelucos e brasilíndios gerados pela mestiçagem de
europeus com índios e que se somou posteriormente aos escravos africanos, onde
em toda essa mistura começou a gerar “protobrasileiros” que vão se assemelhando
a nenhum destes e obtendo uma matriz profunda que hoje conhecemos com o
cabeça-chata nordestino.
Os
brasilindios são os grandes responsáveis pela expansão do Brasil adentro, são
eles formados por filhos de índios com portugueses que por não serem aceitos
pelas matrizes indígenas, uma vez que para os índio a mãe era apenas um saco
onde o homem colocava sua semente para germinar caracterizando o filho como
sendo apenas do pai, nem pelos portugueses eram legitimados por conta de sua
mestiçagem. Assim, logo que cresciam desempenhavam o papel de desbravar o
interior para a caça de outros índios para servirem ao trabalho escravo à que
eram submetidos até esvaírem-se todas as suas forças. Esses brasilindios também
eram chamados de mamelucos, desgnação dada pelos espanhóis num analogia com o
sistema de castas de escravos árabes onde mamelucos era o nome dado àquele que
subjulgava e destratava os de sua matriz étnica. Os mamelucos em sua campanha
de desbravar o interior romperam o tratado de Tordesilhas chegando aos
territórios paraguaio, argentino e uruguaio, os brasilindios paulistas foram os
principais condutores do processo de expansão.
Os
negros do Brasil são em sua maioria da região da costa ocidental africana.
Tendo várias etnias diferentes, desde os de yorubá como os de origem islâmicas,
havendo também o povo Bantu da região do Congo. O negro fora trazido para
substituir o índio no trabalho da
lavoura, uma vez que eram povos agrícolas e tinha grande conhecimento no manejo
da terra, até mais que o índio. Para que não se juntassem e se rebelassem, os
negros eram separados de suas tribos matrizes e misturado ao outros de outras
tribos e que falavam outros dialetos, dificultando assim a comunicação entre
eles. O continente africano era uma Babel de línguas e dialetos, o que
dificultou a comunicação entre eles durante muito tempo. Porém com o tempo os
negros foram se adaptando ao idioma do europeu e começaram a falar e a se
comunicarem entre si em português. São eles os responsáveis pela unificação e
propagação da língua portuguesa, uma vez que o mameluco falava um dialeto
próprio com matriz na língua tupi conhecido como Nhengatu. A partir de então, com o negro passando a se comunicar
com uma única língua é que começaram a surgir as primeiras manifestações por
liberdade. Mas antes disso, a empresa escravista irá se fazem em cima da
violência mais crua e coerção permanente, com os castigos mais atrozes,
desumanos e desculturador de eficácia incomparável. Tal qual como o índio, o
negro era exposto ao trabalho até se esvaírem todas as suas forças, não podendo
fugir daquilo a não ser através da morte, muitos chegaram a cometer suicídio
para não ter que viver de forma bruta ou morriam em tentativas frustradas de
fuga, pois era impossível fugir devido a alta vigilância. O negro sofreu várias
augurias, foi submetido ao exílio, isolamento, a multilação, a uma vida
solitária sem sexo e sem família, onde muitos pereceram. Essas atrocidades
fazem parte da nossa sociedade que é opressora, classista e o pobre é explorado
até hoje.
Devido
à auto identificação própria e nova, surgem o que Darcy Ribeiro denomina como
os neobrasileiros, que são aqueles nascidos aqui e que passam a criar uma
identidade própria sócio cultural, buscando incorporar a todos numa identidade
étnica única. Os neobrasileiros por muito tempo exibiria uma aparência mais
indígena do que negra ou europeia, inclusive na concepção de suas moradias como
nas questões comportamentais. A língua Nhengatu começava a expandir-se pelo
país se tornando por um período a língua geral na fala dos neobrasileiros, essa
língua fora introduzida pelos jesuítas como língua civilizadora subsistindo até
o século XX. O processo de sucessão também ocorre com a técnica agrícola que
incorpora cada vez mais elementos europeu a medida que a economia mercantil se
moderniza. O processo de formação dos povos americanos se deu de diferentes
formas tal que aos gentis colonizados pelos portugueses tem em sua formação
étnica a misigenação entre os da terra e o europeu e o negro, que em ração de
não se identificarem pertencentes a nenhuma dessas três matrizes irá se criar
uma nova etnia sua e sem uma única raiz ancestral, mas uma mistura de raízes,
nasce então o brasileiro, que passa assim a ter uma identidade coletiva. O
processo de construção étnica deixa marcas apenas de um grupo mais letrado, dos
quais esses tem um fanatismo pela reafirmação da herança étnica do colonizador
português, não reconhecendo a até mesmo menosprezando os mestiços que como
Darcy ribeiro menciona, não eram aceitos na raiz genética europeia e nem
indígena, portanto eram rechaçados. Esta parcela da população necessitava de
criar uma nova etinia, a brasileira, mas mesmo dentre estes haviam conflitos
com os que também não eram aceitos devido a possuírem outras raízes étinicas.
Tanto
portugueses quanto os espanhóis sempre relataram o contingente indígena de
maneira a amenizar a sua quantidade e dignificar o papel do conquistador.
Estima-se que o número da população indígena nas Américas seja o dobro do que
relatam os documentos da época, e que fora reduzido a bem menos da metade ao
longo do processo de colonização. Os índios capturados e escravizados eram enviados
para trabalhar em diversas regiões da colônia e muitas vezes distantes de suas
tribos. Durante muito tempo a população indígena continuou sendo disimada e
capturada, além de perderem suas terras a partir da aproximação do homem
branco. Ainda na primeira década do século XX a situação indígena era bastante
conflitante, foi então que o humanista Cândido Rondon e seus companheiros
estabeleceram um corpo de diretrizes que por décadas orientaram uma política
indianista oficial.
A conquista do território brasileiro custou
caro a Portugal que vivia sob ameaça constante de ser engolido pela Espanha na
luta por fronteiras. A construção da população se faz como resultado de uma
política espontaneísta, deflagrando na depopulação de milhões de trabalhadores
com o incremento de outros milhões, ela se constrói pela dizimação mais atroz e
pelo incremento mais prodigioso, utilizando do ventre de mulheres indígenas
escravizadas. O branco colonizador e seus descendentes aumentavam a população
não pelo ingresso de novos europeus, mas sim pela multiplicação de mestiços e
mulatos. O negro crescia passo a passo junto com os brancos, uma vez que eram
trazidos novo contingente da Africa apenas para repor os desgastados pelo
trabalho ou para aumentar o estoque disponível para projetos produtivos.
Fonte: "O Povo Brasileiro" - Darcy Ribeiro