sexta-feira, 26 de agosto de 2016

O Povo Brasileiro - Capitulo II: Gestação Étnica


Para melhor se infiltrar me meio aos povos indígenas, os europeus se aproveitaram de um sistema muito comum entre os índios, que é o sistema de “cunhadagem”, onde qualquer pessoa de fora da tribo que se casasse com uma filha da tribo passava a gozar dos direitos, regalias e vantagens de um nativo, exercendo grande poder de influencia e desta forma usando esse poder para que a tribo lhe fizesse as coisas de acordo com que lhe convinha, ou seja, manipulando a todos se fazendo como se fosse parte deles e como se os anseios do europeu fosse para a tribo o desejo de todos. Nesse sistema todos eram transáveis, o que possibilitou práticas de incesto, pois não se sabia grau de parentesco de ninguém, uma vez que todos se relacionavam sexualmente entre si. Apenas não se podia um cunhado transar com os sogros, e nem com os nascidos após a união, fora isso poderia transar com qualquer outra que estivesse dentro de sua faixa. Alguns europeus se destacaram por possuírem um enorme número de descendentes e tribos subjulgadas através da prática do “cunhadismo”. Muitos filhos dessa mestiçagem se destacaram ao longo da história do Brasil, como por exemplo Jerônimo de Albuquerque que fora o grande capitão de guerra na luta pela conquista do Maranhão ocupado pelos franceses. Os franceses também fundaram criatórios com base no “cunhadismo” e tiveram um grande número descendentes. Houve um período em que não se sabia se  o Brasil seria português ou francês. Os espanhóis também fizeram parte do sistema de cunhadismo e suas participações se dão em lutas contra os portugueses na Paraíba e no Maranhão sempre ao lado dos franceses.
Para dar fim ao sistema de cunhadismo e fortalecer a sua presença, a coroa portuguesa criou o sistema de donatários, dando vastas faixas de terra para alguns de seus nobres que deveriam se estabelecer nelas, torna-las produtivas e rentáveis para a coroa. Essa era também uma forma de consolidar a dominação pelas terras de além mar na luta contra os franceses que almejavam a criar a “França Antartica” na região da Guanabara. Na vinda desses nobres, acampanhara-lhes nessa jornada poucas mulheres portugueses, e dessas poucas nenhuma solteira. Para sanar a necessidade de casamento e procriação, os Jesuítas casavam com os portugueses as mamelucas que já vinha de uma miscigenação do indígena com o português e por serem educadas pelos jesuítas já recebiam uma instrução dentro da fé cristã, assim como modos e maneiras de comportamento de uma esposa europeia. Porém, mesmo essas não eram um número suficiente para suprir o contigente de homens afoitos e em idade de se casar, para esta questão os jesuítas solicitaram então o envio de mulheres de toda a sorte que Portugal pudesse enviar, vindo então meretrizes e órfãs para casar com os portugueses que aqui estavam como uma forma de conter o grande índice de fornicação com as nativas. Mesmo isso não fora o suficiente para conter a lacividade do português, o que fez com que a maior parte dos brasileiros fossem nascidos essa mistura com o índio.
Com as donatárias foram fundadas as primeiras vilas, que juntamente com os jesuítas passaram a reger uma  nova forma de convivência com os índios, em que a convivência cordeal e igualitária do cunhadismo ia dando lugar a disciplina rígida, havendo inclusivo punição com a morte por parte dos religiosos para aqueles transavam com as índias se estendendo a elas inclusive. Nesse mesmo período a relação entre o europeu e o indígena Fo se estreitando, o escambo já não era mais algo interessante para os índios a medida que viam demanda no trabalho crescer cada vez mais, ora pela dificuldade de se encontrar o pau-brasil e ir buscá-lo cada vez mais longe e ora pelo aumento das terras para a lavoura e a redução de gente pra trabalhar, muitos pereciam nos campos. Para o europeu tinha as questões de El-rei e dos religiosos que hora permitiam a caça e escravização de algumas tribos e ora proibia através de decretos. O sistema chega ao seu limite onde além do Genocidio de indiso causado pelas guerras e doenças trazidas pelos europeus, vemos um novo genocídio, o do desgaste pelo trabalho árduo em que muitos não resistiram a tanto esforço e alimentações escassas e pereceram, os europeus exauriam a força de trabalho indígena ao máximo nas capitanias, principalmente nas do sudeste. Simultameamente surgia no nordeste uma nova formação do povo brasileiro, composto por mamelucos e brasilíndios gerados pela mestiçagem de europeus com índios e que se somou posteriormente aos escravos africanos, onde em toda essa mistura começou a gerar “protobrasileiros” que vão se assemelhando a nenhum destes e obtendo uma matriz profunda que hoje conhecemos com o cabeça-chata nordestino.

Os brasilindios são os grandes responsáveis pela expansão do Brasil adentro, são eles formados por filhos de índios com portugueses que por não serem aceitos pelas matrizes indígenas, uma vez que para os índio a mãe era apenas um saco onde o homem colocava sua semente para germinar caracterizando o filho como sendo apenas do pai, nem pelos portugueses eram legitimados por conta de sua mestiçagem. Assim, logo que cresciam desempenhavam o papel de desbravar o interior para a caça de outros índios para servirem ao trabalho escravo à que eram submetidos até esvaírem-se todas as suas forças. Esses brasilindios também eram chamados de mamelucos, desgnação dada pelos espanhóis num analogia com o sistema de castas de escravos árabes onde mamelucos era o nome dado àquele que subjulgava e destratava os de sua matriz étnica. Os mamelucos em sua campanha de desbravar o interior romperam o tratado de Tordesilhas chegando aos territórios paraguaio, argentino e uruguaio, os brasilindios paulistas foram os principais condutores do processo de expansão.
Os negros do Brasil são em sua maioria da região da costa ocidental africana. Tendo várias etnias diferentes, desde os de yorubá como os de origem islâmicas, havendo também o povo Bantu da região do Congo. O negro fora trazido para substituir o índio  no trabalho da lavoura, uma vez que eram povos agrícolas e tinha grande conhecimento no manejo da terra, até mais que o índio. Para que não se juntassem e se rebelassem, os negros eram separados de suas tribos matrizes e misturado ao outros de outras tribos e que falavam outros dialetos, dificultando assim a comunicação entre eles. O continente africano era uma Babel de línguas e dialetos, o que dificultou a comunicação entre eles durante muito tempo. Porém com o tempo os negros foram se adaptando ao idioma do europeu e começaram a falar e a se comunicarem entre si em português. São eles os responsáveis pela unificação e propagação da língua portuguesa, uma vez que o mameluco falava um dialeto próprio com matriz na língua tupi conhecido como Nhengatu. A partir de então, com o negro passando a se comunicar com uma única língua é que começaram a surgir as primeiras manifestações por liberdade. Mas antes disso, a empresa escravista irá se fazem em cima da violência mais crua e coerção permanente, com os castigos mais atrozes, desumanos e desculturador de eficácia incomparável. Tal qual como o índio, o negro era exposto ao trabalho até se esvaírem todas as suas forças, não podendo fugir daquilo a não ser através da morte, muitos chegaram a cometer suicídio para não ter que viver de forma bruta ou morriam em tentativas frustradas de fuga, pois era impossível fugir devido a alta vigilância. O negro sofreu várias augurias, foi submetido ao exílio, isolamento, a multilação, a uma vida solitária sem sexo e sem família, onde muitos pereceram. Essas atrocidades fazem parte da nossa sociedade que é opressora, classista e o pobre é explorado até hoje.
Devido à auto identificação própria e nova, surgem o que Darcy Ribeiro denomina como os neobrasileiros, que são aqueles nascidos aqui e que passam a criar uma identidade própria sócio cultural, buscando incorporar a todos numa identidade étnica única. Os neobrasileiros por muito tempo exibiria uma aparência mais indígena do que negra ou europeia, inclusive na concepção de suas moradias como nas questões comportamentais. A língua Nhengatu começava a expandir-se pelo país se tornando por um período a língua geral na fala dos neobrasileiros, essa língua fora introduzida pelos jesuítas como língua civilizadora subsistindo até o século XX. O processo de sucessão também ocorre com a técnica agrícola que incorpora cada vez mais elementos europeu a medida que a economia mercantil se moderniza. O processo de formação dos povos americanos se deu de diferentes formas tal que aos gentis colonizados pelos portugueses tem em sua formação étnica a misigenação entre os da terra e o europeu e o negro, que em ração de não se identificarem pertencentes a nenhuma dessas três matrizes irá se criar uma nova etnia sua e sem uma única raiz ancestral, mas uma mistura de raízes, nasce então o brasileiro, que passa assim a ter uma identidade coletiva. O processo de construção étnica deixa marcas apenas de um grupo mais letrado, dos quais esses tem um fanatismo pela reafirmação da herança étnica do colonizador português, não reconhecendo a até mesmo menosprezando os mestiços que como Darcy ribeiro menciona, não eram aceitos na raiz genética europeia e nem indígena, portanto eram rechaçados. Esta parcela da população necessitava de criar uma nova etinia, a brasileira, mas mesmo dentre estes haviam conflitos com os que também não eram aceitos devido a possuírem outras raízes étinicas.
Tanto portugueses quanto os espanhóis sempre relataram o contingente indígena de maneira a amenizar a sua quantidade e dignificar o papel do conquistador. Estima-se que o número da população indígena nas Américas seja o dobro do que relatam os documentos da época, e que fora reduzido a bem menos da metade ao longo do processo de colonização. Os índios capturados e escravizados eram enviados para trabalhar em diversas regiões da colônia e muitas vezes distantes de suas tribos. Durante muito tempo a população indígena continuou sendo disimada e capturada, além de perderem suas terras a partir da aproximação do homem branco. Ainda na primeira década do século XX a situação indígena era bastante conflitante, foi então que o humanista Cândido Rondon e seus companheiros estabeleceram um corpo de diretrizes que por décadas orientaram uma política indianista oficial.

 A conquista do território brasileiro custou caro a Portugal que vivia sob ameaça constante de ser engolido pela Espanha na luta por fronteiras. A construção da população se faz como resultado de uma política espontaneísta, deflagrando na depopulação de milhões de trabalhadores com o incremento de outros milhões, ela se constrói pela dizimação mais atroz e pelo incremento mais prodigioso, utilizando do ventre de mulheres indígenas escravizadas. O branco colonizador e seus descendentes aumentavam a população não pelo ingresso de novos europeus, mas sim pela multiplicação de mestiços e mulatos. O negro crescia passo a passo junto com os brancos, uma vez que eram trazidos novo contingente da Africa apenas para repor os desgastados pelo trabalho ou para aumentar o estoque disponível para projetos produtivos.



Fonte: "O Povo Brasileiro" - Darcy Ribeiro

terça-feira, 16 de agosto de 2016

O Povo Brasileiro - Capitulo I : O Novo Mundo


Darcy Ribeiro apresenta neste livro a sua pesquisa realizada sobre a formação do povo brasileiro. Nesta pesquisa ele faz uma análise de como se originou o povo brasileiro através da misturas étnicas, como também de suas culturas e como se dá o comportamento desta sociedade em relação aos aspectos da mestiçagem e posições sociais. Ele nos mostra através deste trabalho que o povo brasileiro tem essa mestiçagem mas não a aceita de fato, principalmente a minoria pertencente a classe dominante, que sempre se mantém no poder e que para tanto faz uso da repreensão e da força sempre que um populista e nacionalista ameaça a institucionalidade mantida por eles. 
Começamos tratando da questão indígena, onde Darcy Ribeiro mostra através de sua pesquisa que  no contato com o Europeu, muitas etnias indígenas foram extintas por não corresponderem aos seus interesses. Os portugueses fizeram contato com as tribos gentis que os viam com representação de Deuses no inicio e se aproveitando da inocência do índio, usaram-nos para a exploração e expansão do território brasileiro. Usavam as guerras que haviam entre os índios para tirar mais proveito apoiando e incentivando cada vez mais ataques aos que não se permitam ser catequizados. Consequentemente através desses contatos começou a nascerem filhos de índios com brancos dando origem a miscigenação. É também a partir desse contato que há um aculturamentos dos indígenas, que passam a ser subjulgados pelos portugueses, tendo de aprender seus costumes e suas crenças e se tornarem cristãos.
 Com o passar do tempo os índios começaram a perder aquele visão de que os europeus eram espécies de deuses que os levariam para os Céus, e começaram a apresentar resistência defendendo o máximo que podia o seu jeito livre de viver, porém cada tribo lutava por si. Mas como o europeu era mais avançado tecnologicamente eram mais fortes que os índios, acarretando num grande extermínio da população indígena no Brasil numa guerra que durou séculos e que na verdade há até hoje, pois temos tribos que vivem isoladas e que não aceitam a cultura europeia sobreposta à sua cultura. Todo esse massacre contra os indígenas teve apoio da Igreja Católica através da companhia dos Jesuítas que tinham como missão catequizar os povos locais e os que não aceitavam deveriam ser mortos ou escravizados. Outro fator que contribuiu ao extermínio de muitos indígenas foram as doenças e pestes trazidas pelos portugueses, eles não tinham imunidades para combater tais doenças pois seus modos de vida, alimentação e costumes não lhes permitira o conhecimento de tais aflições até a chegada dos portugueses.



O gentio foi subjulgado pelo europeu desde quando chegaram às Américas e tudo com o conhecimento e aval da igreja católica, que com a ideia de salvação das almas dos índios permitiu que os europeus os explorassem alegando ser a subverniência o caminha para a salvação sob a orientação dos padres jesuítas, fazendo com que os índios acreditassem em sua condição servil. Os europeus por terem um conhecimento de técnicas de persuasão e possuírem objetos que causava curiosidade e encantamento nos índios acabaram por dominar muitas tribos com essa ideia de que a submissão e o trabalho os levariam a salvação segundo a fé cristã, a igreja por sua vez legitimava tais práticas e também o extermínio dos que não aceitavam se converter ao Cristianismo e os que exercia a prática da antropofagia, comendo carne humana. Diferentemente do que ocorrera na colonização da América do Norte que tinha como ideia a europeização do território separando-se dos índios, assim como também diferente das colonizações ibéricas que se reproduziam com os nativos apenas para aumentar a mão de obra escrava, aqui ocorrera uma miscigenação entre o branco e o índio dando origem aos primeiros brasileiros.
Fonte: "O Povo Brasileiro" - Darcy Ribeiro